11.10.08

Eu queria compôr uma canção mais ou menos assim:

Que começasse com a beleza de um dia cinza. Falasse dos contrastes de suas cores mal-iluminadas e como a luz menos óbvia nos permite ver, de fato, as coisas.


Depois passaria para o milagre de ver água cair do céu. Ao poucos, a penugem quase invisível cobrindo a tudo como um inocente acontecimento casual. Falaria também da brisa, que muitas vezes vem junto, para fazer dançar os fios soltos dos cabelos alheios. O começo de uma sinfonia que não se explica.


Seu refrão destacaria o ponto alto: alguns guarda-chuvas se abrindo lindamente para caminhar no asfalto espelhado. Úmidos assim, os prédios, as árvores, os postes... ficariam pintados com um tom mais vívido do que suas cores habituais. A brisa se transforma em vento, a penugem em gotas sóbrias e a sinfonia finalmente tem um som.


Em seu final, as nuvens se tornariam mais brancas e menos densas. As gotas sumiriam e regressaria à casualidade do começo. Os guarda-chuvas fechariam. O vento seria brisa novamente. E o rastro molhado ficaria para quem quisesse sentir a essência acolhedora de seu milagre.


Mas, é uma pena, pois não tenho a arte dos compositores...