25.6.11

Liberdade

Mesmo que hesitasse, sabia bem o que queria. Queria ir além daquela porta.

Era estranho poder movê-la, ainda que com alguma dificuldade. Era pesada e travava, como se não fosse feita para abrir. Quando luz finalmente entrou, junto ao ar gelado, não poderia ter sentido maior alívio. Nem havia dado um passo à frente, sequer saído do cômodo, e sentiu esvaziar-se de qualquer necessidade. O Sol (Há quanto tempo não o via?) tocou seu rosto com uma gentileza morna. O ar fresco expandiu os pulmões em ondas energizantes. Por um ou dois segundos, era como se pudesse fazer qualquer coisa.

Quando moveu o pé direito para dar o primeiro passo, no entanto, congelou. Ali estava, a poucos centímetros da tão desejada liberdade, e não conseguiu fazer nada. Desejara por tanto tempo livrar-se das paredes, das trancas, daquela porta. Por muito tempo, pensou incansavelmente nas inúmeras coisas que faria fora dali. Admiraria o infinito azul do céu, cheiraria todas as variedades de perfumes de flores, passaria todo tempo com os melhores amigos e faria tudo o que lhe desse vontade, sem desperdiçar nem um segundo sem experimentar felicidade. E, agora, nada mais fazia sentido.

Poderia ter sido medo, insegurança ou a ansiedade - que era grande demais. Talvez um grande apego pelo desejo em si, que já não existiria assim que estivesse fora. Pensou também que poderia ter sido apenas a sensação de liberdade, breve e tão superficial, aquilo que, afinal, buscava. O que quer que fosse, não deu o passo. Voltou-se para dentro, fechando a porta atrás de si, de volta àquele breu abafado. E, mesmo assim, não deixou de sentir-se feliz.