30.10.12

O Futuro de Amanda III

A morte é obviamente algo natural, ainda que as pessoas insistam em se chocar em cada uma delas. Também dolorosa, é claro, mas sempre natural. O que não é natural é despedir-se tão cedo e tão definitivamente de um filho. Foi esse pensamento que guardei ao ver meus pais desolados ali, à beira da cova precoce.

Ser pai nunca foi fácil ou adequado a mim. Era o caminho inevitável, mas chegou tão assustadora quanto inesperadamente e eu juro que fiz meu melhor. Inegável apontar que Amanda facilitou. Eu sempre soube que não poderia desejar uma criança melhor. Mesmo assim, acabamos neste fim.

Sua força sempre foi razão de orgulho para mim. Era esperta, enérgica. Quando me confrontou pela primeira vez eu quase não me aguentei de raiva, mas também soube que ela estava crescendo. Tinha opinião, suas próprias ideias sobre a vida. Por mais que me doesse o conflito, orgulhou-me vê-la tão independente.

Eventualmente, a outra também floresceu - a sua própria maneira. Porém, era em Amanda que eu via a força vital, desbravadora, vencedora.  Na minha cabeça, seu futuro brilhante era certo, praticamente decidido. Teria tudo, seria feliz. Eu, como pai, tinha acertado.

Custou-me alguns dias de choque e mais algumas noites de lágrimas para finalmente perceber que não, não havia sucedido. Pequei no mais inimaginável dos aspectos: sua fraqueza. Subestimei seu tamanho, sua influência. Ainda tinha dificuldade de acreditar, mas a lápide que levava seu nome não deixava me enganar. Era fraca – e eu não pude deixar de sentir certo desprezo.

Sua ação deixava apenas dor e perguntas para trás. Por quê? Foi a falta de uma declaração aberta: eu a amava. Talvez ela não nos amasse o suficiente. Por quê? Seu futuro era lindo. Ela não conseguiu enxergá-lo. Por quê? Agora, havia se destruído. Não era, não estava. Não existia. Por quê?

Estaria em um “lugar melhor”? Dificilmente. Era reconfortante pensar que estava, sim, em algum universo paralelo onde ainda pudesse crescer, desenvolver-se, construir uma vida e ser feliz. No entanto, o melhor lugar era aqui, onde poderia me tocar com todas as suas conquistas. Aqui, onde sua presença provaria sua existência; não ficaríamos relegados a teorias tolas. Aqui, comigo, até o dia em que seria ela – não eu – a ter que se despedir.

(Continua...)

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