Amanda era inteligente, verdade. Esperta. Forte. Crescera uma pessoa
boa, fiel. Motivo de orgulho para qualquer mãe. Possuía diversas qualidades,
trazia suas próprias marcas, muitas das quais jamais entenderia. Mas, acima de
tudo, era jovem.
Até onde sabia, Amanda era uma garota feliz. Tinha sua família,
namorado, trabalho. Não era perfeito, porém, evoluía com perfeição.
Praticamente mulher feita, prudente o suficiente para trilhar um caminho de
sucesso. Feliz, porque sabia muito bem o que queria, ainda que cedesse a uma
tristeza eventual. Tinha vida, tempo, energia. Futuro.
Por isso, o velório passou-se tão melancólico. “Tão nova, tão cedo.” Comentários
sobre os possíveis motivos de sua terrível decisão. O caixão ficou fechado
durante toda a cerimônia, pois optara por não preservar seu corpo. De todos os
seus atos, aquele era o que mais machucara Íris. Era cruel enterrar uma filha,
mas doía não poder vê-la pela última vez. Íris encarou o fato como um último
castigo, mesmo sabendo que Amanda nunca o faria conscientemente.
Sabia que a raiz de sua culpa vinha de um tempo em que sua primogênita
era nova demais para guardar os acontecimentos na consciência. Nascera num
ambiente conturbado, cheio de problemas, dúvidas e discussões. Íris havia feito
seu melhor, mas a urgência em sobreviver superou todo o resto. Nesse turbilhão,
Amanda foi muitas vezes esquecida.
E se tivesse brincado mais com a pequena? Oferecido mais carinho, mais
amor? E se tivesse lhe dado mais do seu tempo, em vez de desperdiça-lo em
lágrimas e preocupações? Teria ela chegado a esse fim?
Sua pergunta mais importante, no entanto, era outra: poderia ter evitado
esta trágica conclusão? Amanda era, em muitos aspectos, misteriosa. Se tinha
motivos para se deprimir a tal ponto, nunca os revelou. Nem sequer demonstrou,
implícita ou explicitamente. Mas, se os tinha, era sua obrigação como mãe
percebe-los. E por dias, até meses, ficou revivendo cada momento ao seu lado,
esperando captar algo novo, qualquer coisa que denunciasse sua inclinação. Não
conseguiu.
No meio do caminho, falhara. Seus erros alcançaram tal nível que
perdera uma filha e – pior - não seria capaz de mudar o fato caso voltasse no
tempo. Se Amanda a culpava, nunca lhe acusou. Porém, não diminuía sua
responsabilidade.
Estaria sua caçula a salvo? Teve medo. Uma de suas filhas não tinha
mais um futuro. A outra poderia estar seguindo o mesmo rumo. Quantas vidas
conseguiria arruinar? Não queria saber. De uma coisa tinha absoluta certeza:
não deixaria que acontecesse de novo, independente do que tivesse que
sacrificar.
(Continua...)
Futuro de Amanda I
Futuro de Amanda III
Futuro de Amanda IV
Futuro de Amanda V
(Continua...)
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