25.6.14

Lidia

Da janela do sótão, que ficava no terceiro andar, ela podia ver o parquinho. Sentada na cadeirinha de madeira, sobre o assento almofadado, observava as crianças da sua idade brincando entre as estruturas coloridas de metal. Elas gritavam e riam, pegavam umas nas outras, conviviam, brigavam e se acertavam. Aprendiam a lidar umas com as outras, entre conversas e brincadeiras, e formavam laços. A menina que gostava do menino; o menino que gostava da menina. As três melhores amigas, que jamais poderiam ser colocadas em times diferentes. Os dois parceiros traiçoeiros que tramavam contra alguns para poderem rir com o resto.

Podia descer naquele mesmo instante, sair pela porta e caminhar até o parque sem problemas. Sua mãe não estava em casa e, mesmo que estivesse, não se oporia. Não havia doença ou qualquer condição que a impedisse. Aquelas crianças provavelmente lhe receberiam muito bem, algumas até poderiam se tornar grandes amigas. Seria uma delas, pertenceria àquele momento. Gritaria e riria, viveria uma tarde feliz.

Porém, não se mexia e mantinha seu posto na janela. Seu desejo se limitava a observar. Interessava-se, pois de outra forma não gastaria tanto tempo ali. Não tinha, por outro lado, qualquer intenção de se tornar um deles. Preferia aquela aproximação distante, em que podia conhecê-los sem tocá-los, familiarizar-se sem envolver-se. Podia conhecer aquele mundo sem sair de seu canto favorito, o cômodo de madeira, triangular, escuro e baixo. Não via sentido em deixá-lo se ali sentia-se tão bem. Preferia assim, onde pudesse ficar só ela. Só ela e, é claro, Lidia.