7.12.07

Eu sou humana.

Humana do tipo que mente. Do tipo que rouba. Do tipo que mata. Do tipo que faz mal.
Sou egoísta. E extremamente hipócrita. Covarde. Medrosa. Assustada.
Humana maldosa. Invejosa. Mandona e orgulhosa, porque sempre tem que estar certa.
Insensível. Com nada me importo. E finjo, apelo, faço os outros acreditarem.
Por fim, sou humana humana, do tipo mais indesejado, pior ser colocado na Terra.

Agora, se todo mundo começasse a admitir assim, quem sabe não seria mais um passo para nos tornarmos uma raça tolerável...

PS: Para blogueiros que aceitam um desafio ->
http://www.morandosozinho.net/amigosecreto/

24.11.07

Pontos de Vista (3 de 3)

Já era fim de noite e não conseguia parar de pensar naquilo. Fora na livraria, uma em que conhecidos lançavam livros e faziam apresentações, fora na frente dela que vira aquele menininho.
Dizia palavras em japonês, repetia-as como quem não tem amanhã, com sotaque e entoação errados, mas empolgadíssimo. Levava a caixa de doces nos braços finos e lhe ofereceu um. Não quis, nunca quer balas. Nem mesmo olhou para seus olhos, mas ouvia claramente sua voz esganiçada. "Kambawa", pois o moço sentado na cadeira lhe ensinara que já era muito tarde para "Kanitiwa".
E não conseguia esquecer aquilo. Pois o que parecia apenas uma vulgarização estúpida de uma cultura que aquele menino nunca entenderia, formou-se em sua cabeça como uma discussão interna, uma intriga estranha. Era um garoto pobre, não apenas de dinheiro. E um rapaz rico, rico de tudo, ou quase tudo. E então, de repente aquele encontro tomava as formas da uma das coisas mais belas dentre as tantas histórias e momentos acontecendo na cidade.
Se não eram esses os momentos em que a inspiração deveria vir, então deveria deixar de querer ser artista...Pegou o papel e o lápis e começou a rascunhar.

Às vezes é preciso apenas uma contadora de histórias amadora para passar para frente o que a grande maioria ignora e não vê...

10.11.07

Pontos de Vista (2 de 3)

Chegou em casa tarde e sozinho, como sempre. Seus fins de semana melancólicos e solitários se estendiam cada vez mais a cada mês. Porém, naquele dia, naquele dia em especial, algo estava diferente.
Havia, naquele mesmo dia, mais cedo, um garoto, um pequeno pedinte na porta da livraria. Mirrado, criança, curioso. Falava com autoridade de adulto, mas não passava de um pirralho intrometido. Sentado em um banquinho para descansar do calor infernal que fazia de tarde, ficara observando o garoto de longe. Quando este se aproximou pra vender balas ou pedir qualquer troco, ele retrucou:
- Sabe como se fala "Boa tarde" em japonês?
O menino, apreensivo e desconfiado, perguntou:
- Como?
Sorriu frente à surpresa do garoto.
- "Konitiwa" - respondeu - E "Boa noite" é "Kombawa".
- É? - perguntou o menino, ainda desconfiado.
- Sim - disse com confiança.
Então o garoto saiu correndo em direção às pessoas que passavam pela calçada da livraria, dizendo para quem quisesse ouvir as novas palavras de seu repertório. Alguns paravam, achando graça, outros ignoravam. Mas o menino se divertia. E ensinava seus amiguinhos.
- Como que é mesmo, tio?
- "Konitiwa" para "Boa tarde" e "Kombawa" para "Boa noite".
- Kanitiwa. Kambawa. Ok. - repetiu o pequeno.
E, pela primeira vez em anos, o "tio" se sentiu bem.

27.10.07

Pontos de Vista (1 de 3)

Naquele dia, ele chegou feliz em casa. Trazia consigo a mesma quantia de dinheiro de sempre - talvez até menos - mas estava especialmente feliz. Pousou seu corpo cansado no tapetinho que lhe servia de cama, enquanto escondia um sorriso por entre os braços. Dessa vez, sua esmola não iria para a pinga de seu padrasto. Dessa vez sua mãe não iria arrancar dele o que recebera aquele dia.
"Kanitiwa" - pensou - "Boa tarde..."
Como era mesmo "boa noite"? Não poderia esquecer! "Kambawa"?
Aquele homem fora bondoso em lhe ensinar aquela língua estranha. Aquele homem não lhe dera dinheiro nenhum.... dinheiro nenhum para que seu padrastro pudesse ficar mais bêbado.
Como sempre, entregou o dinheiro para sua mãe. Mas hoje, sorria. E ela nem desconfiara do que ele guardava dentro de sua jovem mente curiosa.
- Kambawa, mãe!
- Que isso, menino?! Vai dormir, vai!

2.10.07

Retrato da sociedade brasileira

- O que o senhor acha dessa novela do Renan Calheiros?

- Olha, moço, eu não tenho tempo de assistir novela não, só vejo noticiário...

1.9.07

Dor

Se nos machucamos, somos machucáveis. Porque somos nós que temos que saber nos fortalecer para então não sermos fracos diante dos espinhos da vida. É o conceito de se machucar e aprender. Assim, não nos machucamos mais.

Nessa luta de não se machucar, usamos muitas armas. Auto-proteção automática. Pode ser até ataque (afinal, tem gente que diz que a melhor defesa é o ataque, não é?). E mesmo que seja ignorância, tem vezes que simplesmente não temos o conhecimento ou a maturidade para acabar com um assunto pendente dentro da gente de melhor forma.

E então... bem, e então, mesmo que tenhamos consciência dos nossos eus e tudo que influi neles, nem sempre somos capazes de nos consertar.

É isso que nos faz humanos...?

30.7.07

Cansei.

Dos festeiros.
Das meninas que gritam.
Dos apreciadores de cerveja.
Das gordas que choram.
Dos best-sellers.
Dos velhos tarados.
Do tempo que não pára.
Das distâncias injustas.
Das velhas no caminho.
Das crianças que não sabem.
Dos comentários machistas.
De não ser a melhor.
De ouvir o vazio.
E de perder o conteúdo.
De pretender e nunca alcançar.
Das músicas em looping.
Da família vigilante.
De cheiros ruins.
De não ser rica.
Das meninas bonitas.

Sabe...?

Cansei.

3.7.07

Quero ser Paula.

Ela é A Paula. Tem cabelo arrumado, roupas bonitas e acessório invejáveis. Milhões amigos, nem tantas amigas. Festeira, praieira... E bebe. E fuma. A Paula.

Quero ser Paula porque ela sabe falar. Aquilo que todo mundo quer ouvir, aquilo que todo mundo espera ouvir, aquilo que todo mundo diria. E todo mundo gosta.

Quero ser Paula e nunca andar sozinha. Ter a capacidade inexplicável de sempre conhecer duas ou mais pessoas em todos os grupinhos formados em todos os lugares. E ter a paciência de cumprimentar cada um deles. Ca-da-um-de-les...

Quero ser Paula de futuro certo. Futuro planejado. Futuro sabido. Um marido, dois filhos, cachorro, casa e carro. Emprego que sustenta. Um amante. Rotina. Desgaste. Acomodação.

Quero ser Paula - aquela menina normal. Saudável. Bonita. Motivo de orgulho. Neta favorita. Com mais de 500 amigos no Orkut. De passos previsíveis. Vida certa. Perfeita.





Hipocrisia ambulante.........

8.6.07

Festa de Família

Procure a menina que se esconde. Sua roupas têm cores neutras, não são feias, e escondem as neuras que tem de seu corpo. Seu rosto é calmo, inexpressivo, apesar de seus olhos serem um mar de densos pensamentos indecifráveis. Não há em seu aspecto físico nada que lhe chame atenção e seus gestos, passos e ações não poderiam ser mais discretos.

É ela, a filha de um fulano. Seu nome não é importante, não se sabe se seu nome é um ou se é o nome de sua irmã. Todos se confundem, ninguém é culpado, e elas são parecidas... não são? Não importa.

Ela se esconde, não quer falar com ninguém e se alguém tentar, não passará de um papo de minutos. Verdade que se você notar nela por algum motivo inexplicável e sorrir, ela sorrirá de volta. Não é mal educada, está longe disso. Se você perguntar para qualquer um, vão dizer que gostam dela. Claro que no início vai haver dificuldade em especificar de quem estão falando, mas, passado isso, com certeza dirão que gostam dela.

A festa acaba e ela vai como chegou. Resurge quando se despede de todos, como manda a etiqueta, e logo depois volta à sua invisibilidade. Se você observar com cuidado, há alívio em sua expressão ao partir, mas ninguém nota. Sua inexistência já virou costume na cabeça de todos.

Enfim, sua presença fantasmagórica não deixa vazio para trás. Desse grupo de pessoas que se chama família, quem diria algo sobre ela? Se achassem seu nome familiar seria muito. Seu rosto dificilmente lembrado aparece nas fotos como o alguém que faz parte... Questão de sobrenome e genes, mais nada. E é isso que a condiciona passar tardes e noites em companhia de completos desconhecidos.

1.6.07

Pretensão

Tem gente que se contentaria com dinheiro e tudo o que ele pode comprar. Teria bens, freqüentaria todos os lugares, teria milhões de empregados e tudo seu seria do bom e do melhor. Sua fortuna seria a base de sua vida e todas as decisões seriam direcionadas por ele, e unicamente ele.

Tem outros que preferem amar. Achar sua cara metade e ter com quem planejar o resto de sua vida. Namorar, noivar, casar, ter filhos e envelhecer. A família seria seu valioso legado. E terminar sozinho está absolutamente fora de cogitação.

Um terceiro grupo almeja o sucesso. Subir na vida profissional, se tornar conhecido na área e ganhar os devidos prêmios por isso. Se especializaria ao máximo no que quer que escolhesse e sim, seria o melhor. Tudo que precisar ser sacrificado, será sacrificado. É a regra para quem quer vencer.

Já eu, sou pretenciosa. Quero mais que dinheiro, amor ou sucesso.... Quero tudo e quero nada.... Quero a maior incerteza da vida, aquilo que todo mundo acha que quer, o objetivo que a gente esquece ao longo da vida: a simples e pura felicidade.




Será que consigo...?

19.5.07

Mundo à parte

Tem vezes que preciso sair desta realidade sufocante e escapar para um lugar em que ninguém pode me alcançar..

Num lugar em que o céu é sempre azul, e só azul, e neva o tempo todo....

Nesse mundo, preso entre dimensões, vive uma moça que acredita em fadas. Sua casa pequena comporta toda sua arte (desenhos, textos, composições, esculturas...) e tudo aquilo por que se apaixona, inclusive um moço azul e seu falcão de estimação.

À volta de sua casa não há senão uma gramado de extensão infinita e algumas árvores tortas. Não pisa nesse gramado visitantes indesejados, apenas amigos. Sejam homens, plantas ou animais. E são poucos os que têm a passagem livre...

Ela têm uma vida simples: ama seu moço azul de todo jeito, come chocolate e assiste desenhos animados. Às vezes há música e dança como sabe. E não precisa de mais nada...




Esse é meu sonho.
E o seu?

5.5.07

Mutante

Quando eu crescer serei assim, muito legal.

Uma mulher feliz, sem grandes frustrações. Divertida e segura de si mesma. Bonita, bem arrumada. Cheinha de amigos e contatos. Rica... Publicitária de sucesso.

Quando eu crescer serei assim, tudo o que eu quiser ser.

O tempo pode trazer coisas ruins. Pode jogar pedra na sua cabeça. Colocar obstáculos para você cair. Criar muitos traumas.

Mas você só é o que você quiser......








...certo?

16.4.07

Como antes...

Ainda lembro de quando eu era menor e admirava árvores de natal. As decorações dourado e vermelho, os querubins, as luzes e as canções natalinas. Uma crença tão inocente e tão forte em um Papai Noel do pólo norte. Um sentimento de aconchego, felicidade e segurança.........

Sinto falta.
Depois que te arrancam os óculos cor-de-rosa você conhece um mundo cruel.
Assassinam seu Papai Noel. O dourado e o vermelho não passam de disfarces para hipocrisia, os querubins não são mais do que demônios disfarçados, as luzes tentam ofuscar uma verdade tão óbvia e as canções começam a danificar seu cérebro em um looping enjoativo sem fim...

E não há mais aconchego, felicidade e segurança... Ao menos nada comparável ao de antes.

As coisas boas passam a te lembrar dessa época nostálgica e você vê que, por mais belo, lindo e completo que tudo esteja, é muito difícil voltar a ser como era. São muitas cicatrizes...











Por quê...?


PS: A libélula ama o falcão.

23.3.07

Fim

"... quando mergulhei em seus olhos, tive medo. Não sabia para onde estava indo, mas me deixei afundar. A única coisa que soube, desde o primeiro momento, era que era quente e confortável. A sensação mais agradável que minha alma já havia sentido..."

Amar pode doer. Mas não, não me arrependo.





ó.o

16.3.07

Qual será a história de uma pessoa que acaba um dia no metrô falando sozinha, toda suja e desarrumada?

Você vê mais de 30 anos marcados naquele rosto e o olhar de uma experiência que a levou a criar um mundo próprio. Geralmente, um alguém carregado de uma certa mágoa ou indignação e um jeito determinado e hostil. E a absoluta incompreensão de resto do mundo.

Se foi sua solidão, se foi um único fato relevante ou se foi a simples verdade da realidade. Uma pedra da cabeça, um amor mal terminado ou uma alma quebrada mesmo... Tantas possibilidades...

Então nós, pessoas comuns da massa que testemunhamos esse resultado de um trajeto de vida desconhecido, saímos de nossos próprios caminhos para observar. E achamos, como numa tendência estúpida, que tudo se resume àquele momento.

A verdade é que tudo tem uma história. Por mais inimaginável e irreal.


Mas são pouquíssimos os que estão disponíveis a pensar nisso...