27.7.09

Estranha relação de Petrônio.

- Mas é claro que você é linda.
A flor manteve-se irredutível.
- Uma pétala a mais, outra a menos... Você continua maravilhosa.
Era um dia daqueles, que ela olhava pela janela e via o jardim do vizinho.
- Não, querida, você está ótima. É a mais linda.
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- É sim. - estava ficando irritado.
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- Estou falando a verdade!
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- Você quer o quê? Que eu diga que ela é mais bonita?
Ele odiava que ela duvidasse de sua palavra.
Quando saiu, porque sabia que ela não iria ouvi-lo de qualquer maneira, pensou que talvez um rosa não lhe desse tanto trabalho.

7.7.09

O Casamento

Foi um vento traiçoeiro que levou o véu da noiva para muito acima do que o homem mais alto da festa poderia alcançar. Em lufadas breves, como de quem provoca uma brincadeira muito sem-graça, levantou e levantou e levantou, e sem pudor em seus limites, soprou uma última vez para perdê-lo lá no meio da floresta.

Mas Francine não poderia deixar. Um moça bonita andava para seu final feliz, ao longo de um tapete de veludo vermelho com seu vestido de rendas branco, exatamente como dizia em seu livro favorito. E nenhum vento tinha o direito, por mais brincadeira que fosse, de interromper o momento mais importante daquela história.

Então, obstinada, correu para além do que seus sapatinhos apertados permitiam aos seu pés e esticou os braços tão longe, que pensou tê-los sentido aumentar alguns metros (ou seriam centímetros?). Não, o vento não iria vencer. Mesmo ofegante, quase não aguentando mais o entra-e-sai de ar de seu peito, Francine não diminuiu a velocidade. Ela correu mais do que naquele dia em que competiu com a Marília - aquela metida. Correu mais do que no dia que o cachorro do vizinho quis roubar seu sanduíche de mortadela e provavelmente alguns de seus dedinhos também. Mais do que quando seu pai chegou de uma viagem longa com um embrulho enorme de presente.

E mesmo assim, mesmo colocando toda força de seu corpo nas perninhas curtas, herança genética de sua mãe, mesmo dando de si mais do que nunca deu em uma corrida, o vento voava alto demais. Ele roubava, não sabia brincar dentro das regras que as crianças combinavam antes do jogo. Francine até deu pulinhos para ganhar alguns metros de distância, sabendo que também roubava. Até que os joelhos obrigaram-na a parar. Até que ela caiu em cima de grama, ainda olhando o véu branco ser soprado para bem, bem longe. E enquanto ela tristemente o observava fugir e planar muito mais alto que o avião que sempre levava seu avô no fim das férias, desconfiou que talvez tivesse se enganado. Que talvez o vento não estivesse mesmo brincando...