30.5.09

Momento II.

Não eram mais almas famintas. Ou pensavam que não.

Até que um dia, num daqueles jantares frígidos cheios de assuntos tediosos sobre os quais ninguém queria mesmo conversar, ela derrubou sua macarronada bem em cima dele com o movimento da mão distraída.

Foram segundos de silêncio, não porque ele ficava bravo e ela esboçava um pedido de perdão - algo que nenhum dos dois fazia há muito tempo. A familiaridade da cena fez com que ambos se olhassem nos olhos, outra coisa que raramente faziam ultimamente, o que os chocou, tão repentinamente. E sorriram.

- Oh, não é sua calça favorita, né? - disse ela, as exatas mesmas palavras de 20 anos atrás, quando estava em um primeiro encontro que a levaria ao altar.

- Mas é claro que não. - respondeu ele, sabendo que há 20 anos trás era sua calça preferida que vestia, mas nunca admitira.

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17.5.09

Momento.

Agora, todas as vezes que se cruzassem, lembrariam de um momento terno, sorririam em alegria saudosa e sentiriam vontade de dizer um comentário qualquer sobre o tempo nublado, para que tivessem a atenção um do outro. Ela desejaria que ele se oferecesse para carregar seus livros; ele esperaria por um abraço, um beijo ou que fosse um sorriso de carinho.

E cada pequeno momento desses alimentaria daquela forma quase, mas não satisfatória, duas famintas almas apaixonadas.

8.5.09

volta.

Disse a menina de olhos tão escuros como dois velhos poços secos que se arrastaria fugaz pelas sombras dos rodapés enquanto se alimentaria dos segredos que fossem lá jogados, para serem esquecidos. Para que não fossem esquecidos, para que se conservassem num estado permanente de vergonha em um antigo álbum usado.