4.11.12

O Futuro de Amanda IV

Na maior parte de tempo, quando completamente imersa em uma tarefa, vinha a sensação inconsciente de que a veria mais tarde, voltando do trabalho, de um passeio ou, quem sabe, de uma viagem de alguns dias. Já fazia alguns meses. A agenda lotada me ajudava.

Em casa, vivíamos como o espectro de uma família. Era silencioso. Meu pai andava ansioso e também mais apegado a mim. Minha mãe, por outro lado, havia se distanciado a tal ponto que eu podia contar nos dedos as palavras que havíamos trocado desde o incidente. Ah... o incidente.

A ausência de Amanda não foi novidade. Há mais de ano que nossos compromissos nos distanciavam uma da outra. A faculdade, os estágios, cursos e projetos paralelos... Estávamos crescendo, certo?

Por isso mesmo a falta de sua presença não representou uma grande mudança na minha vida. Também me envolveu em uma ilusão cruel de que ela estava ali, sim, mesmo que longe. E quando a realidade caía em minha cabeça – de novo e de novo – como uma rocha maciça, a dor era grande. Uma tristeza me dominava, sem resistência, me enterrava e me jogava em uma escuridão esmagadora. Sensação da morte.

Não chorei quando soube, não chorei durante o enterro e também não chorava nesses momentos. Em vez disso, sufocava. Não éramos irmãs próximas, dificilmente melhores amigas. No entanto, sentia-me perdida e sozinha como jamais antes. Como poderia continuar, dar os próximos passos? Ela era a desbravadora. Se em muitos aspectos guardávamos diferenças, sua força me inspirava. Notei que, na verdade, era vital.

Abandonada. Eu era tão ridiculamente dependente? Odiei-me por me sentir assim. Odiei-a ainda mais por ter me deixado. Maldita Amanda. Fugiu sem explicações; escolheu o caminho fácil. Tomou uma decisão estúpida sem nem se importar. Eu não precisava dela.

Foi durante a arrumação de suas coisas que descobri o inverso. Dentro de um envelope branco, no qual vinha impresso seu nome completo, em uma folha branca preenchida com termos técnicos e formais, números e palavras que, em meu entendimento limitado, soavam como aviso. Não. Uma condenação.

Era ela que precisava – precisou - de mim.

(Continua...)


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