1.5.12

The way it hurts

Foi o último zíper aberto da mochila que a fez lembrar daquele dia. Bebia sozinho no bar, de onde podia ver a televisão. Tinha olhos apenas para o jogo. Até o momento em que a viu, o sorriso desafiador. O que era mesmo que a havia seduzido? Provavelmente aquele charme perigoso. Fechou o zíper e esperou.

Havia dias que ele não aparecia em casa. Por isso, a briga foi tão feia. Começou com os gritos, os xingamentos. O babaca nem podia se justificar, porque não tinha o que dizer e vinha completamente bêbado. Passou a noite com as vagabundas, ela acusou. Ele não respondeu. Ela partiu para cima.

Móveis quebrados, paredes socadas. Um olho roxo, talvez dois, dores pelo corpo. Mesmo assim, ela não parou. Provocou e ele avançou. Ela correu para a porta com sua mochila. Ele jamais a deixaria partir.

Segurou-a pelo braço e jogou-a contra a parede, onde a prendeu com o corpo. Beijou-a, primeiro à força. Depois, sentiu seus braços finos puxando-o. Quando a olhou, ainda viu ódio em seus olhos. Ela cuspiu e ele se afastou.

Em vez de agredi-la, como ela esperava, ele alcançou seu isqueiro de estimação. Era o fim. Ele o jogou na cortina, que se incendiou em segundos. Era hora de partir. Ela saiu correndo abraçada à mochila e parou a alguns metros. A casinha alugada em chamas era algo bonito de ver.

Mais uma vez, ele a havia abandonado. Mais uma vez, haviam brigado. Ele a xingou, berrou e agrediu. Destruiu sua casa. Mais uma vez. Ela queria deixá-lo. Ele tocou em seu ombro. Precisamos ir, disse. Ela o seguiu. Mais uma vez.