24.11.07

Pontos de Vista (3 de 3)

Já era fim de noite e não conseguia parar de pensar naquilo. Fora na livraria, uma em que conhecidos lançavam livros e faziam apresentações, fora na frente dela que vira aquele menininho.
Dizia palavras em japonês, repetia-as como quem não tem amanhã, com sotaque e entoação errados, mas empolgadíssimo. Levava a caixa de doces nos braços finos e lhe ofereceu um. Não quis, nunca quer balas. Nem mesmo olhou para seus olhos, mas ouvia claramente sua voz esganiçada. "Kambawa", pois o moço sentado na cadeira lhe ensinara que já era muito tarde para "Kanitiwa".
E não conseguia esquecer aquilo. Pois o que parecia apenas uma vulgarização estúpida de uma cultura que aquele menino nunca entenderia, formou-se em sua cabeça como uma discussão interna, uma intriga estranha. Era um garoto pobre, não apenas de dinheiro. E um rapaz rico, rico de tudo, ou quase tudo. E então, de repente aquele encontro tomava as formas da uma das coisas mais belas dentre as tantas histórias e momentos acontecendo na cidade.
Se não eram esses os momentos em que a inspiração deveria vir, então deveria deixar de querer ser artista...Pegou o papel e o lápis e começou a rascunhar.

Às vezes é preciso apenas uma contadora de histórias amadora para passar para frente o que a grande maioria ignora e não vê...

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