2.3.12

A espera

Andava por um caminho tortuoso. As folhagens densas e os galhos grossos escondiam a estreita trilha de terra e o caminho incerto não permitia que se visse além de um ou dois metros à frente. O ar era úmido, quente e pesado. A cada passo, folhas batiam em seu rosto e, ao olhar para cima, só via as copas de árvores. Estava sozinha e já andava havia alguns quilômetros, mas Marta não tinha medo. Era corajosa, gostava de uma aventura. Era uma menina esperta e cheia de vida

A trilha terminava em uma clareira, onde ficava um pequeno sobrado de madeira. Longas tábuas verticais, pintadas de um tom azul-piscina, desgastadas e sujas, formavam suas paredes. No telhado, faltavam algumas telhas. Nas janelas, alguns vidros. A varanda se estendia por toda a sua fachada e recebia os visitantes com os sons tilitantes do mensageiro dos ventos.

O interior da casa trazia um cheiro fresco, de úmido e mofado. Fora sempre assim. Seus cômodos eram escuros e cavernosos. Abrigavam poucos móveis, pouca ou nenhuma decoração. Não deixava, porém, de ser aconchegante. Marta chamava aquele sobrado de lar desde seu difícil nascimento no quarto do andar de cima. E não o abandonara desde então.

Como toda menina, tinha grandes sonhos. Chegar longe, alcançar o horizonte. Era tão bonita, tão cheia de energia! Poderia ir para onde quisesse... mas não ia. Ia gastando sua juventude nas pequenas tarefas domésticas, em reexplorar a região já explorada, na solidão e nos planos do futuro. Um futuro que nunca chegava.

Não era dada ao medo nem à desistência. Era algo naquela casa, na cor desgastada, na varanda velha, no mensageiro dos ventos... Era algo que era dela e a que ela pertencia. Um pedaço essencial que não a permitia deixá-la para trás.

O dia, porém, chegou.
Marta finalmente iria embora. Não olharia para trás.

Foi até o quartinho, fez sua mala. Poucos pertences. Suspirou profundamente o ar úmido daquele lugar. Visitou cada cômodo, cada lembrança. Lembrou-se dos momentos ternos e dos momentos dificeis. Deixou-se viajar pelas décadas ali marcadas. Permitiu-se chorar pelo adeus.

Mas a melancolia e a nostalgia não a desanimaram. Estava determinada. Era o dia.

Faltava apenas um último cochilo. Deitou na rede, ajeitou o corpo pequeno e frágil. Já não tinha tanta vida, tanta energia ou beleza. Antes de adormecer, viu as copas das árvores se balançando do lado de fora da janela e sentiu conforto no movimento.

Então, fechou os olhos.

Por lá ficou, o corpo velho e cansado.
E Marta não olhou para trás.

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