3.2.10

Manchete de Jornal

Durante a madrugada de ontem, a empresária Amanda Pwinki (55) foi encontrada morta a poucos metros da guarita do prédio onde morava. Pelo estado de seu corpo e alegações de testemunhas, a polícia considera que tenha se jogado de seu próprio apartamento no 19º andar, onde residia há mais de dois anos. Dona Jussara, outra moradora do 19º andar, diz que acordou com o estrondo, assim como a maioria de seus vizinhos. “Foi muito alto, eu até achei que estava tendo um pesadelo. Quando olhei, o porteiro chamava por ajuda e outras pessoas estavam observando.”, diz, emocionada. Ela também conta que Amanda era uma mulher amável, apesar de reservada, e que tratava a todos com muito respeito.
Para o ex-marido, Luis Banis, foi uma grande surpresa. “Nós nos encontramos no fim de semana passado para resolver assuntos das crianças e ela parecia muito bem. Ria de tudo, fazia piadas, até achei que estávamos nos aproximando.”, revela, claramente abatido. Amanda e Luis tinham dois filhos juntos, uma menina de 15 anos e um menino de 9, que moram com o pai em um bairro nobre de São Paulo. Luis ainda não teve coragem de dizer o que aconteceu para os filhos e nem sabe como irão reagir.
Para a mãe de Amanda, Marcia, a filha já dava sinais de depressão há um bom tempo. “Ela me ligava tarde da noite para falar de coisas sem importância, eu achava que era porque ela queria conversar coisas sérias e não tinha coragem.”, desabafa a senhora, viúva há dez anos. “Meu marido que conhecia bem a minha filha, dizia que ela era bem transparente e que não estava feliz em seu casamento. Acertou, porque ela acabou divorciando, né?”
No apartamento de Amanda, nada parecia fora de lugar. A polícia encontrou a cama feita, nenhuma louça para lavar, tudo muito limpo e bem arrumado. Em seu quarto, a janela estava totalmente aberta e havia uma carta, que endereçada à sua mãe, dizia:

“Mãe,
A senhora se lembra daquele fim de semana na fazenda do tio Mário? O papai queria me ensinar o nome dos pássaros, mas eu queria mesmo era cavalgar no Luke, o maior garanhão de lá. Fui de teimosa, subi nele quando ninguém estava olhando, tive minha diversão por 2 minutos e caí dura no chão. Lembro que vocês demoraram para me achar e eu ouvia meu nome aos gritos. Fiquei deitada na grama um tempão, sentindo minha perna quebrada, chorando feito tonta, rezando porque achava que iria morrer.
Naquele momento, um pássaro preto – que depois o pai me diria ser um Chupim - pousou perto de mim. Ficou me olhando, me encarando, e deu um pio tão poderoso que chamou a atenção de vocês. Não sei se você se lembra de me achar por causa dele, eu não contei isso para ninguém.
Foi nesse dia que secretamente comecei a desejar ser um Chupim. Ele é pequeno, mas tem um canto alto e voa feito um esnobe. A senhora nem imagina a admiração que tive por ele naquele dia. Cheguei até a montar uma pasta enorme só com informações e fotos dele, que mantive e alimentei por anos a fio.
Com o tempo, é claro, a gente esquece dessas coisas. Nem sei qual foi o fim da pasta, se acabei jogando fora. Nem sei se você um dia chegou a vê-la. É estranho, depois de tanto tempo, eu me lembrar dela, as inúmeras páginas montadas com tanto carinho, tanto sonho e esperança.
Naquela época, acho que eu ainda acreditava em muitas coisas que eu acabei deixando para trás.

Me desculpe, mãe.

Amanda”

Um comentário:

  1. Realmente ótimo... Seus textos inspiram sensações diferentes, Não sei explicar! o.O

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